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  • O pr prio enfermeiro treinador n

    2019-05-13

    O próprio enfermeiro-treinador não pode ir embora por temer o destino dos cães, diz, se o homem imóvel resolver fazer uma matança com abscisic acid ajuda da central telefônica. A resposta das duas mulheres presentes na casa, a mãe e a irmã [“diante de uma situação desse tipo, se trancariam aterrorizadas em uma das jaulas”] dá conta não do perigo [praticamente justificável] da matança dos cães [ou dos latino-americanos?], mas ao contrário, daquilo que não é dito, mas paira como uma ameaça bem mais real aos [outros] humanos, esses cães soltos no mundo e “adestrados para matar quem quer que seja com uma única mordida na jugular” como está dito na primeiríssima página do livro. Ou seja, defendo que a metáfora do futuro da América Latina está menos direcionada para a leitura do homem imóvel como personagem principal da trama e possível ditador latino-americano, que para a leitura dos cães pastores belgas malinois como povo latino-americano pobre e raivoso disposto a assaltar o mundo. Um dado do presente da América Latina [e do presente da narrativa de Bellatin] que funciona nessa tensão e contenção: o que parece sustentar a casa é ainda justamente o trabalho mais descaradamente alienante da classificação de sacolas de plástico. Além do poder caprichoso do homem imóvel há ainda o poder perverso de um patrão inominado que escraviza as mulheres numa atividade sem fim e sem aparente finalidade. E de novo é a palavra “intuir” que explica a relação alienante e ao mesmo tempo tão bem-vinda —já que as mantém ocupadas— às duas mulheres. Explica ou solicita, ao não explicar, a perspicácia do leitor, encarnado desta vez no ponto de vista do enfermeiro-treinador: Em outra passagem ficamos sabendo que “Nem a mãe nem a irmã sabem na verdade o que fazer com as sacolas plásticas que devem classificar. Limitam-se a acomodá-las em pilhas mais e mais”. No entanto, suas maiores agruras dizem respeito ao atraso no trabalho com as sacolas. A isso se resumem suas vidas. Podemos intuir, não sem incômodo, a que se refere Bellatin. O mais interessante do livro e que não se pode intuir na edição brasileira é de como ele parte de uma situação real e como joga com a ideia de representação. Diz Bellatin em outra entrevista no Brasil: É isso, pra mim, que faz com que Bellatin seja um autor tão interessante. A realidade não explica nada. A realidade é o mistério. Não há espaço para tornar legível [e apenas legível] uma realidade latino-americana tão complexa. Há espaço para intuir possíveis e somente interpretações muito parciais, muito subjetivas, muito especulativas de uma realidade gasta e complexa. Nisso, poderíamos nos aproximar do belo poema de Drummond, “América”: E até o final do longo poema de Drummond parece estar em diálogo com o breve romance de Bellatin, ainda que o sorriso cínico da personagem de Bellatin seja assustador e o sorriso do longo poema de Drummond seja acolhedor. Diz Drummond: “Sou apenas o sorriso/ na face de um homem calado”. Diz Bellatin: “Reparem: o homem imóvel mantém inalterável o seu sorriso peculiar”. Esse diálogo [delírio meu] entre Bellatin e Drummond, no entanto, leva meu texto a larynx um lugar que desejo: às trocas entre as literaturas do Brasil e da América-hispânica, embora Mario Bellatin, na sua participação na Feira Literária Internacional de Paraty (), tenha falado em entrevista a Livia Deorsola: “Percebo diálogos pouco explorados e nem sequer vejo uma literatura latino-americana, nem autores latino-americanos, e menos ainda considero o Brasil como parte ou não da América Latina. Trato de apreciar somente os livros, e procuro separá-los de suas circunstâncias”. Logo uma evidência chama atenção: a ausência da expressão América Latina como tema da ficção ou da poesia contemporânea brasileira e mesmo a ideia de uma literatura latino-americana como tema de debates, conversas, encontros etc. Parece, salvo engano, que não é um tema que queiramos discutir. Mas, na edição brasileira do livro de Bellatin é um escritor brasileiro que escreve a contracapa e, por sua vez, Bellatin assina a contracapa de uma escritora brasileira, como a recomendar sua leitura: de Verônica Stigger. Como os dois autores se assemelham no constante apagamento das respostas convencionais ao que seria a literatura e a expandem, forçando sua conceituação, imaginei que talvez ali estivesse a porta aberta ao diálogo entre autores brasileiros e latino-americanos, mas Verônica esclarece: